A qualidade da energia é um obstáculo para a Indústria 4.0 no Brasil


A robotização extrema é a saída da indústria do ocidente concorrer com os baixos custos de mão de obra do oriente. A onda protecionista americana, com a chegada de Donald Trump, só terá sucesso com a introdução da Industria 4.0, a chamada quarta revolução industrial, nas fábricas nos Estados Unidos. A Indústria 4.0 permite a produção em massa de produtos personalizados, o que muda o paradigma de Henry Ford e das atuais fabricas. A retomada da industrialização do Brasil, se optarmos por uma estratégia inteligente, deverá ser baseada na Industria 4.0. Para isso é fundamental o fornecimento de energia de qualidade para os robôs e sistemas de automação, um desafio que devemos superar.

A Aneel define e monitora um conjunto de indicadores de qualidade de serviço das concessionárias de distribuição de energia:

  • Indicadores individuais de continuidade
  • Indicadores coletivos de continuidade
  • Compensação pela transgressão dos limites de continuidade
  • Indicadores de conformidade do nível de tensão
  • Tempos médios de atendimento às ocorrências emergenciais
  • Segurança do trabalho e das instalações

Os mais conhecidos pelo público são o DIC, FIC, DEC e FEC, ou seja, os tempos de interrupção individual (DIC) e coletivo (DEC) de energia e a frequência que eles ocorrem (FIC e FEC). Obviamente, isso é importante. Pegue o exemplo de um hospital que tem um gerador de emergência com capacidade para atender uma interrupção de energia de 4 horas e a concessionária permite que uma interrupção se prolongue por mais de 7 horas, devido a falhas no atendimento de ocorrências emergenciais. Nenhuma compensação financeira estabelecida pela Aneel cobre os riscos e esforço das equipes medicas para salvar vidas na UTI.

No caso das fábricas, uma interrupção de energia afeta diretamente a produção e altera a logística de entrega de produtos e serviços. Conhecendo o histórico da região (a Aneel divulga os indicadores por conjunto elétrico por município) as empresas podem calcular seus níveis de produção e serviços. Embora as compensações sejam significativas para os acionistas das concessionárias que veem seus dividendos ir para ralo, do ponto de vista dos consumidores é insignificante.

Veja nas tabelas as compensações por transgressão do nível de tensão de três concessionárias da região Sudeste, segundo dados da Aneel.

O limite do indicador DRCE (duração relativa de transgressão de tensão critica equivalente) é de 0,5%. O indicador DRPE (duração relativa de transgressão de tensão precária equivalente) tem limite máximo de 3%.

Como se pode observar o desafio é grande para as concessionárias atingirem os índices mínimos e, consequentemente, os valores das compensações são elevados. Entretanto, o que mais preocupa é que não existe uma tendência clara de melhoria. Pelo contrário, as compensações são crescentes, tirando das concessionárias a capacidade de investimento em melhorias, criando uma espiral negativa.

Pensar em uma estratégia de Industria 4.0 nesse cenário energético é desanimador. A boa notícia é que conhecemos o problema e a sociedade precisa encontrar uma solução.

Uma solução é a geração distribuída de energia com um sistema de transmissão próprio. Obviamente, nesse cenário não resolve as empresas comprarem energia no Mercado Livre, pois a energia comprada de uma fonte de geração independente usará a infraestrutura de transmissão e distribuição existente das concessionárias.

Outra medida é fazer cumprir os contratos de concessão de forma a garantir condições para o desenvolvimento de novos negócios. A Aneel precisa ampliar sua comunicação com a sociedade, explicando porque não toma ações mais efetivas para melhorar os índices de qualidade.

Vamos em frente.