Mercado Livre ou Geração Distribuída: qual a melhor estratégia?


A melhor estratégia energética é aquela que resulta em maior disponibilidade, melhor qualidade e menor custo de energia. A escolha da estratégia depende de variáveis internas e externas, tais como: localização, processos de produção, estágio de eficiência energética da empresa, planejamento de expansão, valor dos terrenos na região, evolução de preços dos equipamentos de geração distribuída, evolução das tarifas de energia, capacidade e qualidade do atendimento da demanda da concessionária de distribuição, marcos regulatórios do setor de energia, novos empreendimentos e crescimento vegetativo do consumo de energia na região. A tomada de decisão deve considerar uma visão holística, incluindo metas sustentáveis e questões regulatórias, e não apenas a redução do custo atual da energia.

Muitas condições de análise dependem da localização empresa, principalmente as questões de fornecimento de energia pela concessionária e oportunidades para a implantação de geração distribuída. Por exemplo, o custo dos terrenos e a irradiação solar para a implantação de um parque de geração de energia fotovoltaica. O custo do terreno é diretamente proporcional ao custo da planta de geração distribuída, sendo um fator chave na análise de viabilidade financeira. A situação pode ser contornada instalando a planta, na região de concessão da distribuidora, em locais de custo menor de terreno, considerando utilizar os benefícios da resolução normativa nº 687/2015 (revisão da 482/2012) da Aneel. Felizmente, o Brasil tem alta radiação solar em todo o território, principalmente, nas regiões sudeste, centro-oeste e nordeste. A menor radiação solar no Brasil é, comparativamente, a menor na Alemanha, onde a produção de energia distribuída é, altamente, difundida.

Um ponto importante nas análises de eficiência energética é o processo de produção e a busca de alternativas para reduzir o consumo e melhoria da qualidade da energia. A questão aqui é avaliar etapa por etapa da produção e identificar os principais ofensores. Um exemplo clássico é a eficiência dos motores, onde muito operam em condições fora de especificações ideias, normalmente, em questões de carga. Um sistema desequilibrado produz ineficiência e afeta, diretamente, o fator de potência, gerando custos adicionais para a empresa. Lembrando, que o fator de potência exigido é 0,92 pela Aneel, abaixo disso a concessionária aplica penalidades a empresa. Normalmente, para corrigir o fator de potência é necessário banco de capacitores para compensar a energia reativa gerada pela ineficiência do sistema.

Ainda na área de processos, devem ser analisadas opções de eliminação de etapas na produção de alto consumo de energia, como a substituição de equipamentos, deslocamento da etapa para outras plantas da empresa ou a terceirização.

No caso da geração distribuída, além do terreno, os custos dos equipamentos para a construção da planta de energia distribuída é fator crítico, além dos custos de projeto, construção e manutenção. Felizmente, os custos dos equipamentos estão caindo ano a ano, no mercado internacional. Aqui no Brasil, o desafio ainda são os tributos. Já no mercado livre, praticamente, não existem barreira de entrada, pois não requer investimentos de capital (CAPEX) da empresa. Entretanto, dependendo do projeto e do tipo de financiamento, é possível amortizar o financiamento com a parcela de redução dos gastos com energia, permitindo uma economia, significativa, após o pagamento do financiamento, uma vez que uma planta fotovoltaica tem uma vida útil superior a 20 anos. Empresa de capital aberto podem avaliar o lançamento de debentures para financiar o projeto.

Como é possível, dentro da regulamentação do setor elétrico brasileiro, atender a mais de um ponto físico com uma única planta de geração distribuída, a empresa deve considerar sua expansão, mesmo com a implantação de novas fábricas, centros de distribuição e lojas. Tanto a compra de energia no mercado livre como na geração distribuída, é possível fazer incrementos de produção e demanda contratada de acordo com o crescimento da empresa. Na geração distribuída, o excesso de produção de energia é convertido em créditos que pode ser utilizada no futuro, compensando picos de consumo de energia.

Uma preocupação constate dos consumidores é o aumento do preço das tarifas de energia elétrica, principalmente, por fatores não técnicos. Durante a pandemia do Covid-19, existem vários movimentos políticos para repassar para os consumidores os custos da inadimplência de alguns consumidores, principalmente, os de baixa renda e empresas que sofreram maior impacto com a suspensão dos negócios. Também, como uma das maiores fontes de geração de energia para o sistema integrado nacional de energia (SIN) é a hidrelétrica de Itaipu, onde o custo da energia é definido pela cotação do dólar. Outro fator que, recentemente, influenciou as tarifas foi a introdução de novas linhas de transmissão de alta tensão.

Outra linha de análise é a capacidade e qualidade de energia fornecida pela concessionária de distribuição. É fundamental entender qual a capacidade máxima de demanda que a concessionário pode atender na localidade da sua empresa e seus planos de investimento em expansão. Lembrando, que a energia consumida de fontes externas a empresa deve, obrigatoriamente, passar pelas linhas de transmissão e subestações da concessionária. Caso exista uma limitação para atender a demanda, tanto os projetos de compra no mercado livre como a geração distribuída remota ficam comprometidas. A solução neste caso é a geração de energia dentro da empresa, seja por painéis fotovoltaicos, geradores a gás ou a diesel.

Também, é preciso ficar atento ao crescimento vegetativo de consumo de energia da região e monitorar o plano de expansão da concessionária, para evitar um colapso no abastecimento. Outro ponto importante é monitorar junto a prefeitura novos empreendimentos na região, como shopping centers e novas fábricas, que podem comprometer a oferta de energia.

Igualmente importante é acompanhar as audiências públicas da Aneel para acompanhar as tendências de novos marcos regulatórios e avaliar novas oportunidades de eficiência energética, compra de energia no mercado livre e geração distribuída, além de decisões que podem elevar os custos de energia. Aqui a importância das associações e fóruns de usuários para debater e influenciar nas decisões do regulador e das concessionárias de energia.

Como vimos, a definição da estratégia energética da empresa é influenciada por diversos fatores: técnicos, financeiros, políticos e metas empresariais. A decisão de permanecer como cliente cativo, migrar para o mercado livre ou construir ou participar de um consórcio de geração distribuída depende de caso a caso.

O importante é utilizar nas análises todas as variáveis possíveis e criar cenários prospectivos para a tomada de decisão. Ferramentas analíticas e modelos de aprendizado de máquina, que utilizam conceitos de inteligência artificial, são úteis como ferramentas de apoio a decisão.