Novas tecnologias transformam e destroem modelos de negócios e técnicas de engenharia tradicionais. A telefonia é um exemplo claro desta transformação. No passado recente, a telefonia fixa analógica exigia um par de fios metálico para a transmissão de voz e dados de baixa qualidade. Hoje a telefonia celular permite a transmissão de dados em alta velocidade e voz (que agora é apenas mais uma função de dados). O setor de energia elétrica encontra-se em um estágio de grandes desafios. Um destes desafios é a transmissão de energia elétrica de pontos remotos de geração para os locais de consumo. O modelo atual apresenta grandes perdas técnicas, vulnerabilidade de quedas de torres de transmissão por eventos naturais, atualização dos ativos e grandes despesas em operação e manutenção (O&M). Esta situação tem impacto direto na economia do país. A expansão econômica de regiões distantes dos grandes centros exige linhas de transmissão de energia que levam anos para se concretizar, desde o planejamento até a efetiva operação. Assim como foi na telefonia, o setor elétrico deve adotar novas tecnologias e adotar modelos de geração distribuída de grande capacidade.
Para Mário Araripe, presidente da Casa dos Ventos, o gargalo da expansão da matriz energética brasileira para o crescimento econômico do Brasil estará na transmissão de energia (Canal Energia, 28/5/2019).
Fazendo uma analogia com a movimentação de pessoas nos grandes centros urbanos, indo para o trabalho pela manhã e retornando no final do dia. Nestes horários, o sistema de transporte público e as vias para carros ficam congestionadas. A situação ideal seria projetar todo o sistema viário para atender os horários de pico, entretanto, o investimento seria enorme e o sistema ficaria ocioso na maioria do tempo. A solução é alterar a lógica do negócio. Para evitar que as pessoas se desloquem, uma das soluções é transferir os escritórios das empresas para os locais onde as pessoas moram. Muitas prefeituras oferecem incentivos fiscais para as empresas que levarem seus escritórios para regiões residenciais distantes.
Por analogia, podemos fazer o mesmo com a geração de energia. Ou seja, levar a geração para próximo do consumo, evitando as longas e limitadas linhas de transmissão.
Incentivando a geração distribuída os próprios empresários podem investir na construção e operação de plantas de geração, criando liberdade para localizar seus negócios onde for mais vantajoso para eles. Provavelmente, em muitos casos, a localização das fábricas será próxima dos principais insumos de produção, evitando tempo e custos de logística.
Felizmente, a norma regulatória nº 687/2015 permite a minigeração de até 5MWp com acoplamento na rede de distribuição da concessionária local de energia. Regula, também, o modelo de participação de consórcios e cooperativas, permitindo o investimento compartilhado. Ainda, permite que o local de geração seja em outro local dentro da área de concessão da distribuidora.
O que precisamos é incentivar este modelo, buscando modelos de negócios que maximizem os investimentos. As três esferas do governo podem colaborar neste movimento.
O fórum Eficiência Energética oferece informações e tem um modelo de negócio que ajuda a grupos de empresários a viabilizar plantas de geração distribuída. O objetivo do fórum é trabalhar para o crescimento econômico do país através de novos modelos de negócio em energia.