Microgrid para consórcios de geração distribuída protege contra alta de custos e melhora a qualidade de energia


O consumidor de energia assiste a discussão sobre o socorro financeiro ao setor elétrico, que deve ter um déficit bilionário com a pandemia do Covid-19. A Aneel elevou para 16,1 bilhões a proposta de teto para empréstimo bancário e prevê cobrir o déficit com revisões tarifárias para algumas distribuidoras de energia. A maior parte destes recursos será para compensar a queda no consumo de energia e o aumento da inadimplência durante a pandemia. Além disso, a alta do dólar fez com que a energia produzida pela binacional Itaipu ficasse mais cara, e do aumento no valor pago para remunerar o serviço de transmissão de energia com a entrada em operação de novas linhas de transmissão. Do ponto de vista de estratégia empresarial, é necessário tomar medidas urgentes para conter os custos de energia, um dos principais insumos para a produção, pois com a queda da atividade econômica no país e a mudança de comportamento dos consumidores, a última coisa a se pensar é em alta de preços.

Estamos em uma época que soluções que funcionaram no passado, não funcionam agora. Usar soluções clássicas de eficiência energética ajudam a reduzir custos, porém não na magnitude necessária para atender aos novos desafios do mercado, que ainda estão envoltos em grandes incertezas.

Uma das alternativas, poucos exploradas no país, é o uso de consórcios de empresas para a geração distribuída de energia. Existe o arcabouço regulatório que permite a formação de consórcios ou cooperativas para a produção de energia até 5MWp, com garantia de acoplamento a rede pública na área de concessão das distribuidoras de energia. A resolução normativa n° 687/2015, atualização da n° 482/2012, define as regras para a formação dos consórcios.

Com a redução da taxa SELIC em 3% (maio/2020) e previsão de alta do custo de energia é possível a simulação de cenários para projetos de geração distribuída, baseados em retornos financeiros suficientes para a amortização dos financiamentos com baixo impacto no OPEX das empresas consorciadas.

É fato que a indústria nacional de painéis fotovoltaico enfrenta desafios tributários. A fabricação nacional paga até 60% de impostos sobre seus insumos. Já o produto importado paga 0% (com Reidi, Regime Especial de Incentivos para o Desenvolvimento da Infraestrutura) ou 11,76% (sem Reidi, mas com crédito tributário), segundo relatório do grupo de trabalho fotovoltaico do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC). Isto faz que os módulos fabricados país sejam 35% mais caros que os importados.

Além da redução e blindagem do custo da energia, outro fator é, igualmente, relevante para o uso de energia distribuída é a qualidade da energia. Existe algumas concessionárias de distribuição de energia que nunca conseguiram atender aos índices de qualidades de energia definidos no PRODIST – módulo 8 – que trata da qualidade de energia. A situação é pior para consumidores que ficam em localidades remotas ou em regiões rurais.

Uma alternativa, já testada no Brasil e em outros países, é o uso de microgrids, ou micro redes, para a operação isolada em um sistema de distribuição, atendida diretamente por uma unidade de geração distribuída, conforme definição da Aneel. Um microgrid pode se conectar e desconectar da rede da distribuidora de energia, permitindo que ela opere no modo conectado à rede ou ilha (isolada).

Um projeto de P&D da AES Tietê com o uso de bateria foi testado na UHE Bariri e outro projeto envolvendo biogás da Copel, com apoio de Itaipu, prevendo o uso de pequenas redes de energia para atuarem de forma isolada, como backup, em situações de falta de energia.

Para um microgrid funcionar de forma eficiente é necessário um gerenciamento inteligente. Um microgrid inteligente interconecta, interopera e otimiza o desempenho de cargas, recursos distribuídos e armazenamento de energia, usando um esquema de controle em camadas, dentro de limites elétricos definidos que atuam como uma única entidade controlável em relação ao microgrid no ponto de acoplamento comum. Um microgrid inteligente equilibra a oferta com a demanda em tempo real, programa despacho de recursos e preserva a confiabilidade da rede.

O crescimento da microgeração e minigeração distribuída no país coloca um grande desafio de gerenciamento da demanda para as distribuidoras de energia e para o Operador Nacional do Sistema (ONS). A entrada de energia na rede pública por milhares de fontes independentes em volumes variáveis de energia, pode levar a um desequilibro entre os despachos das fontes primárias de energia e o consumo em regiões com alta concentração de geração distribuída. Nestes casos, os microgrids inteligentes podem garantir a eficiência do fornecimento de energia.

Fórum Eficiência Energética (www.forumeficienciaenergetica.com.br), mantém um grupo de discussão técnica para os interessados no assunto.